Dia Mundial da Paz

A paz continua sendo uma das aspirações mais profundas da condição humana. Quem não almeja uns momentos de paz? Um minuto, uma hora, um dia que seja? O tempo inteiro somos perseguidos por tensões, discórdias, conflitos. Até mesmo sob o mesmo teto ou entre quatro paredes, quanto ódio e quanta hostilidade se escondem! As coisas são mais graves, entretanto, quando se trata da violência intrafamiliar ou no grupo de parentesco; de certa polarização política, ideológica e religiosa que divide povos e nações; de guerras nacionais ou internacionais. Quanta gente passa boa parte da vida destilando veneno e respirando ar tóxico! Nesse cenário, acumulam-se vítimas inocentes, junto com cinzas, ruínas, escombros.

Violência e guerra beneficiam somente quem fabrica e comercializa armas. O mais poderoso se fortalece, enquanto o mais frágil se enfraquece. Aumenta o fosso da desigualdade socioeconômica e político-cultural. Como alertava São João Paulo II em visita ao México, em 1979, “os ricos se tornam cada vez mais ricos à custa dos pobres cada vez mais”.

O Dia Mundial da Paz, celebrado logo no início do novo ano, em 1º de janeiro, traz embutida essa aspiração humana. Trata-se de começar o período que se abre com um anseio redobrado pela convivência fraterna, a solidariedade e a paz. Esta, porém, requer determinados pressupostos indispensáveis. De que modo pensar em paz onde o trabalho escasseia, e é impossível nutrir a família? Como garantir clima de paz, quando os direitos básicos são sistematicamente violados? Será possível conciliar a paz com a fome, a sede e a fuga? Haverá paz enquanto persistirem gigantescas assimetrias entres os países?

Que caminho conduz à paz? Um começo de resposta encontra-se na encíclica Populorum progressio (1967), publicada por São Paulo VI. Tentativa que se repete ao longo toda a Doutrina Social da Igreja. No documento citado, podemos encontrar o seguinte subtítulo: “O desenvolvimento é o novo nome da paz”. Em outras palavras, a paz somente se ergue sobre alicerces sólidos, “casa construída na rocha”, diz o Evangelho. O poeta cantava que no Brasil a fome convive com grandes plantações, destinadas à exportação.

Um olhar mais geral, ainda que rápido, revela que boa porcentagem da população não dispõe de terra nem de emprego estável. Outros equilibram-se na corda bamba do subemprego ou do trabalho informal. Fechada a porta legal do mercado de trabalho, outras oportunidades se fecham, tais como moradia, educação, saúde, vestuário, alimento!… Além disso, outra porcentagem da população não conhece água potável encanada nem rede de esgoto. E quantos milhares ou milhões dormem pelas ruas e praças, erram pelas estradas do país, batendo em vão em portas cerradas?!

Não, definitivamente a paz não se resume apenas à ausência de guerra. Condições de vida precárias e vulneráveis acarretam igualmente inquietude, insegurança, impotência e indignação, quatro “in” negativos, que tiram a paz a qualquer cidadão. O desafio consiste em superar essa situação com políticas públicas voltadas para o “desenvolvimento integral”.

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