O 5º ano do pontificado de Francisco e o apelo a igreja local

Era uma noite fria e chuvosa de quarta-feira, 13 de março de 2013, na cidade eterna, Roma. Na praça vaticana, após a erupção da fumaça branca pela chaminé da capela sistina e o badalar dos sinos da catedral, olhares de uma multidão embevecida convergiam para a sacada da Basílica de São Pedro esperando a aparição do Novo Bispo de Roma, o papa eleito. Em latim, foi anunciado que o Arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mário Bergoglio, doravante Francisco, havia sido eleito o novo Pontífice. Contiguo a esse anúncio, irrompeu uma inebriante salva de palmas. O novo Papa manifestara-se ao povo. Agradecera a Deus por sua escolha, rezara pelo seu antecessor e, para finalizar, suplicara ao povo uma prece pelo seu novo ministério. Após ser abençoado, abençoou a multidão e se despediu com um singelo “buona sera”.

Daquela noite de quarta-feira em Roma até hoje, longos cinco anos se passaram. Um quinquênio do Pontificado de Francisco é celebrado nestes dias. O primeiro papa latino-americano, primeiro jesuíta pontífice e o primeiro a assumir o nome de Francisco. Ao longo desse tempo, foi possível conhecer um Papa de gestos simbólicos, senso de humor refinado e profundo amor à Igreja e ao Evangelho. São anos de busca de renovação e esperança. Também tempo de duras e fatigáveis batalhas e, não raras, oposições implícitas ou explicitas.

Ao longo desse período, Francisco mostrou-se um incansável operário da vinha do Senhor. Entre outros atos, o Bispo de Roma pronunciou mais de 976 discursos; fez 39 viagens nacionais e internacionais, alcançando mais de 22 países; publicou duas Encíclicas e duas Exortações Apostólicas, além de várias Mensagens Pontifícias, Constituições apostólicas e motu proprios. Outrossim, introduziu no martyriologium Romanum mais de oitocentos santos e a um pouco mais de mil, beatificou.

Essas ações revelam uma parte de sua imensa disposição em servir ao Reino levando a termo o projeto de reforma da Igreja, gestada nos umbrais das Congregações gerais que precederam sua eleição. De fato, Francisco deseja instigar a Igreja à uma nova etapa na evangelização, marcada pela alegria do Evangelho. Uma Igreja que não seja centrada em si, autorreferencial, mas uma comunidade à medida do Reino, comprometida com os pobres, missionária. Verdadeiro hospital de campanha!

Sob o pálio do quinto ano do pontificado de Francisco e face a seus inúmeros esforços para fazer da Igreja uma comunidade cada vez mais à medida do Evangelho, cabe insistir para que as bases eclesiais encetem um processo de recepção dos ideais de Francisco. Insistir que as comunidades paroquias sejam espaço de acolhida dos pobres, que agucem nas pessoas uma consciência ecológica dilatada e que busquem acompanhar, discernir e integrar a fragilidade das famílias. Que sejam ilhas de misericórdia e acolhida para os que padecem nas diversas periferias existenciais e materiais. Que ultrapassem o limite da mera empatia afetiva com o Papa e possam implementar, cada vez mais, o projeto do Pontífice a partir das bases mais concretas da Igreja.

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