‘Ele agiu com esperteza…’ (Lc 16,8)

Jacob Adrianensz

“Um homem rico tinha um administrador acusado de esbanjar os seus bens…” (Lc 16,1). Esse “administrador” somos nós! Os bens materiais e espirituais que possuímos não são totalmente “nossos”. Dinheiro, propriedades, família, saúde, inteligência, tempo, a graça e as virtudes nos foram dados por Deus como a “administradores”, para que cuidemos deles e façamos frutificar. Ora, devemos confessar que às vezes não os guardamos como deveríamos; “esbanjamo-los”; tornamo-los estéreis; utiliza- mo-los de modo egoísta! 

O Evangelho recorda-nos de que não somos senhores absolutos do que possuímos e que, no dia do Juízo, soará aos nossos ouvidos: “Presta contas da tua administração!” Daremos conta a Deus do que tivermos feito com os bens e qualidades que na verdade eram Seus, pois, como diz o Salmo: “Ao Senhor pertence a terra e o que ela contém” (Sl 23,1). Lembrar-nos de que somos apenas “administradores” é, além disso, algo necessário em relação aos bens materiais, para que não os busquemos como a finalidade principal de nossa vida. 

Ao ler esta parábola, muitos estranham o fato de que “o senhor elogiou o administrador desonesto” que perdoara parte da dívida a seus credores. Contudo, o próprio Evangelho diz claramente que o que era digno de louvor não era a desonestidade, mas, sim, a sua “esperteza” ou “prudência”. “Prudente” é o homem capaz de, diante de uma situação importante ou difícil, perceber qual é a melhor coisa a ser feita e quais são os melhores meios para realizá-la. 

Daqui vem outra consequência desta leitura: não basta sermos homens “bons”, precisamos ser “espertos” para praticar o bem! Não basta ter razão, é preciso saber como convencer; não basta querer evangelizar, é preciso saber como; não basta querer o bem do próximo, é preciso descobrir na prática – sem medo e sem ingenuidade – como lhe ajudar de modo efetivo! Por isso, Nosso Senhor constata com certa tristeza: “Os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz”. Quantas pessoas são hábeis e astutas para fazer o mal, para pecar, para lesar o próximo… E como, às vezes, somos lentos, medrosos e ineficientes para fazer o bem! 

Neste caso, a “prudência” do administra- dor consistiu em dar as riquezas! Como o próprio Senhor diz, ele “fez amigos” com os bens alheios, abrindo mão e perdoando débitos, pois acreditou que isso lhe valeria um auxílio no futuro. Daqui, retiramos outra consequência do Evangelho: para compensar as “falhas” da nossa administração, nada mais “prudente” do que sermos generosos! 

Demos esmolas; gastemos o tempo com o próximo; empreguemos nosso conhecimento em favor dos demais; perdoemos as ofensas sofridas; sacrifiquemo-nos pelos outros; ajamos com amor e generosidade. Sigamos o conselho do Senhor de “fazer amigos” que nos receberão nas moradas eternas. E porque nossa “administração” certamente foi “infiel” em alguns momentos, lembremo-nos de que “a caridade cobrirá uma multidão de pecados” (cf. 1Pd 4,8). 

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