A Santa Sé e o Serviço ao Desenvolvimento Humano Integral

O Papa Francisco constituiu no Vaticano, em 2016, o Dicastério (organismo) para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, com a missão de promover o desenvolvimento da pessoa à luz do Evangelho. Atuará nas áreas relacionadas com as migrações, os necessitados, os enfermos, as vítimas dos conflitos armados e desastres naturais, os encarcerados, os desempregados e os que sofrem qualquer forma de escravidão e de tortura. Também recolherá informações e resultados de pesquisa sobre a justiça e a paz, o desenvolvimento dos povos, a promoção e proteção da dignidade humana e dos direitos humanos; avaliará esses dados e informará às Conferências Episcopais suas conclusões, oferecendo material de estudo e apoio. Poderá estabelecer relações com associações, instituições e organizações não governamentais, mesmo fora da Igreja Católica, comprometidas com a promoção da justiça e da paz. 

O nome do novo organismo tem a designação de Humanismo Integral. Essa expressão remonta a obra de J. Maritain (1882-1973), literato e filósofo francês convertido ao catolicismo. Para ele, o verdadeiro humanismo manifesta a grandeza criacional da pessoa, desenvolve suas forças internas e transforma a realidade humana em caminhos para a liberdade. 

Na Encíclica Caritas in Veritate (CV), Bento XVI considerou o humanismo integral nessa mesma direção, levando a compreender que a adesão aos valores do Cristianismo é um elemento útil e mesmo indispensável para a construção da sociedade (CV 4), pois a Igreja quando anuncia, celebra e atua na caridade, tende a promover o desenvolvimento integral do ser humano (CV 9). A vocação cristã a tal desenvolvimento compreende tanto o plano natural como o plano sobrenatural, não sendo suficiente progredir apenas do ponto de vista econômico e tecnológico.

Afirma Francisco, na Laudato Si ’ (LS), que as diretrizes para a solução de nossa crise socioambiental requerem uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza (LS 139), em vista do bem comum que desempenha um papel central e unificador na ética social (LS 156). O bem comum pressupõe o respeito pela pessoa humana enquanto tal, com direitos fundamentais e inalienáveis orientados para o seu desenvolvimento integral (LS 157). Uma ecologia integral exige que se dedique algum tempo para recuperar a harmonia serena com a criação, refletir sobre o nosso estilo de vida e os nossos ideais, contemplar o Criador, que vive entre nós e se manifesta naquilo que nos rodeia (LS 225). Uma ecologia integral é feita também de simples gestos cotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração e do egoísmo (LS 230). 

Chamemos de humanismo integral ou de ecologia integral, o que importa é a visão que o Papa Francisco deseja manifestar com esse novo Dicastério. O cristão está sim na sociedade, não é separado, participa de tudo, vive tudo, envolve-se em todos os ambientes e não se coloca acima ou fora da realidade, mas vive intensamente o cotidiano. É melhor correr o risco de se sujar com a realidade do que viver distanciado dela. Quanto mais entramos nos dramas sociais, mais entenderemos que Deus se fez homem e veio nos trazer um humanismo ou uma ecologia integral.
 

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